‘EMBAIXO DAQUELE
ANGÚ TINHA CAROÇO’
‘Operadores’ da Cestermig já deram cano em trabalhadores de Brasília (DF) como representantes de outra empresa que fechou as portas.
Documentos obtidos pelo O FIO DO NOVELO comprovam ligação de ‘procuradores’ da Cestermig com a conservadora Oliveira & Schlickmann Ltda – que já foi processada pela Justiça do Trabalho no DF.
‘Homem Forte’ de empresa contratada pela PMT mora em mesmo endereço onde funcionava empresa que deu golpe no DF. Novas denúncias reforçam tese que sócias da Cestermig são mesmo ‘laranjas’.
Quando O FIO DO NOVELO publicou a primeira matéria dando conta de que o prefeito de Timóteo Sérgio Mendes (PSB) havia contratado a empresa Cestermig Empreendimentos Ltda, por R$ 2,2 milhões para prestação de serviços de mão obra nos prédios públicos do município, já se suspeitava que embaixo daquele ‘angu tinha caroço’. E tinha mesmo. Bastou mexer ao fundo caldeirão e os caroços brotaram.
Até então os indícios eram de incapacidade técnica da empresa para ganhar o contrato, já que a empresa havia sido fundada apenas em abril deste ano, e de que as sócias estavam sob suspeição, já que uma delas é menor e à outra nem o pai tem conhecimento que ela era dona de uma conservadora que presta serviços para PMT. Também denunciamos o fato da empresa usar a linha telefônica do gabinete do prefeito (3847-4713).
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Sede da OLIVEIRA & SCHLICKMANN, no bairro Ana Rita |
Se a situação da Cestermig já era gravíssima, agora, piora ainda mais, a partir do momento que apuramos que os verdadeiros ‘operadores’ da empresa são, na verdade, os mesmos representantes da conservadora Oliveira & Schlickmann Ltda, que apresenta como endereço rua Nigéria, 378, bairro Ana Rita, em Timóteo.Ao que tudo indica esta conservadora fechou ás portas, após receber inúmeras multas trabalhistas movidas por ex-empregados, no Distrito Federal (DF), onde já prestou serviços. Nos processos, os ‘procuradores’ da empresa são: Nelson Wessler Schlickmann, que tem como domicílio atual onde sediava a Oliveira & Schlickmann Ltda – uma figura fácil de ser encontrada nos corredores da PMT.
A DUPLA G.S.P & NELSON - A Oliveira & Schlickmann Ltda teve como sócio G.S.P, que se apresenta como procurador hoje da Cestermig. Além de G.S.P já figurou-se como sócia da empresa que deu golpe no DF, uma esposa de pastor residente em Timóteo.
G.S.P & Nelson seria um sugestivo nome de qualquer dupla musical, mas preferiram se unirem mesmo é para serem os ‘operadores’ das empresas Oliveira & Schlickmann Ltda e Cestermig Empreendimentos Ltda, conforme atestam os documentos e depoimentos de funcionários. “Quem é o dono é o Nelson e o encarregado, que também manda, é o G.S.P n”, confirma um dos empregados da empresa.
Se ligar para a casa de Nelson Schlickmann, a empregada também dedura o patrão, sem querer. “Ele não está. Pode ligar para a empresa dele que fica em cima do Banco do Brasil”, diz ela, onde na verdade, funciona a Cestermig Empreendimentos. Pelo telefone, a atendente da Cestermig confirma que ‘quem responde pela empresa é o Nelson’. E é o que responde mesmo, conforme revela ata do processo licitatório homologado pelo prefeito Sérgio Mendes. Foi justamente Nelson Schlickmann que foi o procurador da Cestermig na licitação. Estranhamente, embora resida há poucos quarteirões da PMT, a sócia majoritária da empresa, Daniele Santos, não compareceu ao certame do contrato milionário.
Quanto ao G.S.P foi mais fácil descobrir seu envolvimento com a Cestermig, por mais que negue. Foi ele que assinou como procurador da empresa Cestermig em processo licitatório na Prefeitura de Coronel Fabriciano. Lá, também quem apresentou a Nota Fiscal para o setor Financeira foi Nelson Schlickmann. Na cidade vizinha, Daniele Santos, também se mostrou uma empresária ausente, pois sequer foi à PMCF.
Precavido, Chico Simões já cancelou o contrato de cerca de R$ 11 mil (não confunda, é apenas R$ 11 mil e não R$ 11 milhões por quase um ano de serviços) ao apurar que os procuradores da empresa estão envolvidos em vários processos na Justiça Trabalhista, enquanto representantes legais da outra empresa que ‘operavam’ juntos. “Apesar do baixo valor do contrato, não convém contratar uma empresa que tem em seu quadro procurador de empresa que lesou de trabalhadores em outras praças”, justificou o prefeito fabricianense.
“Como prefeito estou assustado com a quantidade de processos da empresa que eles também teriam participação. Basta entrar o google e pesquisar”, sugeriu Chico Simões, que ao contrário de Sérgio Mendes, optou por suspender imediatamente o contrato e não fez nenhum pagamento à empresa. Simões explica que é praxe da PMCF checar as informações das empresas antes, durante e depois do resultado de cada licitação. Apesar disso, Simões reconhece que o prefeito não tem a obrigação de saber detalhes da ‘vida pregressa’ de sócios de empresas que participam de licitações, mas que tem o dever de extinguir os contratos, assim que tomar conhecimento das irregularidades.
JUSTIÇA DO TRABALHO BLOQUEOU RECURSOS
DE EMPRESA QUE NELSON ERA ‘ADMINISTRADOR’
A Justiça do Trabalho bloqueou créditos da Oliveira & Schlickmann Conservadora Ltda pelos serviços terceirizados de recepção e de portaria prestados ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Os recursos financeiros estão à disposição da juíza da 1ª Vara do Trabalho de Brasília, Débora Heringer Megiorin, para efetuar o pagamento das verbas trabalhistas de 15 recepcionistas que trabalhavam na empresa. Esta decisão liminar atende ao pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT) na Ação Civil Pública ajuizada pela procuradora Ana Cristina Tostes Ribeiro.
Denúncia do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Trabalho Temporário, Prestação de Serviços e Serviços Terceirizáveis no Distrito Federal (Sindiserviços) revelou que a Oliveira & Schlickmann não realizou o pagamento de salários, vale transporte, auxílio-alimentação e depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço dos trabalhadores ao abandonar o contrato de prestação de serviços com o MPDFT. Para solucionar o problema, a empresa firmou Termo de Ajuste de Conduta (TAC), comprometendo-se a regularizar os pagamentos. O que não foi feito pela empresa. Aliás, no termo de TAC a empresa foi representada justamente pelo ‘homem forte’ da Cestermig, Nelson Wessler Schlickmann.
Com o descumprimento do TAC, o MPT ajuizou a Ação Civil Pública. “A lesão a direitos individuais homogêneos é patente, agravada pela natureza salarial das parcelas, de nítido caráter alimentar, privando os trabalhadores dos meios necessários para prover a sua subsistência”, afirma a procuradora Ana Cristina Tostes Ribeiro.
O assessor jurídico do Sindiserviços, Georget Alves, alertou que ‘todo cuidado é pouco’ com os representantes da Oliveira & Schlickmann Conservadora Ltda. Segundo ele, a empresa chegou a prestar serviços terceirizados para o Correios, onde também ‘deu golpe’ em carregadores de malotes.
IMPEDIMENTO - A Oliveira & Schlickmann Conservadora Ltda de propriedade do hoje ‘homem forte’ da Cestermig, conforme ‘aviso de penalidades’ publicado no Diário Oficial da União (DOU), no dia 11 de julho último, está impedida de licitar e contratar com órgãos públicos pelo prazo de dois anos, ‘em razão da inexecução parcial de contrato e reiteradas inadimplências trabalhistas’.
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ATA da licitação confirma envolvimento de Nelson na Cestermig |
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Mesmo depois das graves denúncias prefeito continua pagando a Cestermig |
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TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTE DE CONDUTA | |